A chegada

Bem, depois da longa introdução que ânimaram os ânimos para nosso texto sobre Cuba, cá estamos sem muita inspiração, mas com o dever moral de escrever.

Podemos descrever nossa chegada à ilha de Fidel como a passagem por um portal. Cuba parecia ter ficado perdida algumas décadas atrás. E isso não era uma sensação motivada tão somente pelos carros antigos já que sim, eles existem e, em sua maior parte, são táxis para turistas (restaurados e um tanto artificiais) ou táxis coletivos para a população local (não restaurados e um tanto reais).

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Não dá para explicar Cuba e sua infinitude de causas e consequências – isso exigiria um um bocado de cervejas -, mas acho que aquela sensação pode ser bem representada pela teoria sobre a evolução das havaianas. É que lá, se existissem havaianas, seriam somente as tradicionais. Sabe aquela com solado branco e alças azuis? Exatamente essa. Antes da avalanche de havaianas de todas cores e sabores, só existiam aquelas velhas e boas. Todo mundo usava, todo mundo era igual e todo mundo era feliz. Bom, lá em Cuba, ainda é assim. Em regra, as pessoas consomem os mesmos alimentos, os mesmos produtos, independente se possuem mais ou menos recursos. Não existe a imensa variedade de produtos e lojas que encontramos do lado de cá do portal. Ainda que, já hoje, os cubanos possuam salários diferentes, de modo geral consomem os mesmos bens e atravessam os mesmo perrengues.

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Evidente que não é tudo assim. O turismo atualmente dá uma força gigante para todos aqueles que estão de certa forma envolvidos e, especialmente nas zonas mais turísticas, é como se ocorresse a passagem por um novo portal. Ali era possível encontrar todas aquelas havaianas coloridas que conhecemos, e ainda que sem uma diversidade imensa de alimentos, sobrava luxo e atenção para servir ao apetite gourmet dos viajantes. E o que acontece, por vezes, é que a turistada que chega esbanjando todo tipo de havaiana acaba não enxergando o fator mais rico (em nossa opinião) de uma viagem à Cuba: suas diferenças, suas raízes.

Enfim, cada um faz o que bem entende da vida, mas nós tentamos deixar as nossas coloridas de lado e caminhar dentro do possível no normal side de Cuba, ainda que fosse evidente a dificuldade/dualidade de nossa estadia por ali. Aliás, entender os últimos 50 anos de um país em 10 dias, ou mesmo 100, seria muita pretensão e o que fizemos ali foi, sei lá, fazer graça só.

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Para começarmos do começo, chegamos em Cuba da forma mais genuína: com a aviação cubana, a Cubana Aviación. O vôo foi econômico e tranquilo cruzando o mar do Caribe que, sem exagero, de tão azul se confundia com o céu no horizonte.

Já na ilha, os trâmites de migração seguiram um rito normal, a não ser pelo carimbo de entrada do país, feito nas últimas páginas do passaporte, ilhado e isolado em um folha inteira só para ele.

Com nosso espírito mochileiro ainda animado pela saída triunfal de Cancun, resolvemos ir ao centro de Havana da forma mais barata que conseguíssemos. Com a idéia na cabeça, puxamos papo com outro casal de mochilas e nossa oferta de dividir o táxi foi aceita depois de certa hesitação. A questão é que o casal holandês não tinha dinheiro e uma conexão Cuba-Brasil teve que fazer o resgate financeiro dos pobres europeus. Sem casa, sem dinheiro e sem o que fazer, pagamos o táxi e os levamos para a casa particular onde nos hospedaríamos (La Ventilada). Depois de algumas voltas pela cidade, descobriram que não existia caixa eletrônico que aceitasse o cartão deles e Carmen e Ariel (da casa particular) entraram com um bocado de Pesos Convertibles para que sobrevivessem até a chegada de uma remessa via embaixada holandesa.

Isso mesmo. Os dois holandeses tiveram a capacidade de chegar em  um novo país sem absolutamente nada de dinheiro. Ficamos, nós dois, nos imaginando chegando em qualquer outro lugar do mundo sem um centavo sequer. Mas em Cuba? Cuba é livre, sem problemas.

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Nós dois, já devidamente hospedados, e depois de um belo banho para tirar o resto de Cancun que ainda tinha sobrado e aguentar o calor que fazia em Havana Vieja, saímos para explorar aquelas ruas esburacadas e comer alguma coisa.

Naquele mesmo fim de tarde, conhecemos os hambúrgueres cubanos de US$ 0,50, recebemos recomendações de um guarda e quase caímos em um “turist trap” com direito a salsa, show, Vuena Bista Cocial Slub a preços que sustentariam dez famílias cubanas por um ano. Aliás, a abordagem excessiva e sempre atrás de comissão ($$) na indicação de qualquer atividade turística era algo que incomodava e persistiu durante toda nossa temporada. Faz parte, é assim que conseguem viver e é assim que vai continuar sendo. Tá aí uma coisa que igualava Cuba aos demais países centroamericanos.

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O fato é que depois de alguns rolês pelas ruas já escuras e como ainda não estávamos preparados para encarar a comida de rua de Havana, nos chamou a atenção um lugar com música ao vivo e muita gente dançando na rua. Isso mesmo, como os Cubanos (que vivem com Pesos Cubanos) não têm grana para pagar programas de turistas (cobrados em Pesos Convertibles), a festa era se aglomerar do lado de fora das grandes janelas, tomando qualquer gole de rum e dançando a mesma música que nós, não cubanos, curtíamos. Para não dizer ninguém, e como prova de que os cubanos tem suingue e amam música, só um casal de cubanos entrou. Partilharam uma única xícara de café e fizeram a noite deles dançando ali no pequeno salão, assim como a de todo mundo que assistia.

E a comida? Uma caldereta de frutos do mar com muito camarão e lagosta, mas não tão boa assim como poderia ter sido. Aliás, além dos incansáveis intermediários turísticos, o que nos pegou em Cuba foi a comida. Naquele mesmo dia, já conhecemos o cominho cubano que nos acompanhou para sempre por toda ilha.

A diferença era que, naquela noite, o som era tão bom que nem percebemos:

2 comentários sobre “A chegada

  1. Já era tempo

    Como assim sem ânimo e com dever moral de escrever? A Europa afugentou aquela pegada de Cuba? A viagem ainda é longa, bobos, recuperem o fôlego!

    Pois é, quem diria…. Na terra em que todos têm – ou deveriam ter – a simprona e eficiente havaiana branca de tira azul cueca, quem no fim andou descalço foram os holandeses… Tá fácil pra ninguém.

    Esse relato do povo curtindo na rua o som vazado da janela me lembrou o cenário das cervejadas da sanfran, em que a galera da rua, fora das grades, tava sempre mais loucona, mais feliz, e curtindo mais o som do que nós que estávamos do lado de dentro, não é não?

    E o povo de lá? Como é que são? E o casal da casa particular? Mandem mais!

    E mais uma vez as fotos estão sensacionais, parabéns!

    Abraço e beijo, xanfros!

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    1. Fala Biduuu! Dá vontade de continuar escrevendo só para ir conversando com você. Tamos meio atrasado e tá saindo devagar, mas é que rola muita coisa ao mesmo tempo e ainda temos que programar tudo que não programamos antes de sair. Dá trabalho…

      Vamos postar mais sobre Cuba e ainda vamos falar sobre eles!

      Abrassssss

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